Especialização, Proximidade e Qualidade

Dor Orofacial vs Sono vs Ansiedade

Segundo a International Association for the Study of Pain (IASP), a dor orofacial é considerada como uma forma frequente de dor na cara e/ou cavidade oral. Pode ser produzida por doenças ou distúrbios de estruturas locais, disfunção do sistema nervoso ou por referência de fontes distantes.

Embora, a disfunção temporomandibular (DTM) seja a causa mais comum de dor orofacial crónica não odontogénica, existem distintas patologias dolorosas que podem afetar a região da cabeça e pescoço.

A dor orofacial pode ainda ser explicada como uma experiência multidimensional associada a elementos emocionais e psicossociais que não podem ser ignorados na abordagem médica pois pressupõem diversas causas, tais como: dentárias, articulares, musculares e nevrálgicas, o que implica uma abordagem multidisciplinar.

Utentes que apresentam dor orofacial apresentam semelhanças com outros que têm dor crónica, com uma ligação entre os sintomas patológicos objetivos, comportamentais, stress social e psicológico, limitação das atividades diárias, incapacidade ocupacional e taxas mais altas de uso de cuidados de saúde.

A dor orofacial é uma causa importante de consulta médica, transportando depois outras componentes associadas à dor, como ansiedade e depressão.

Utentes com cargos profissionais exigentes ou que estejam a passar por períodos de vida mais stressantes ou ansiosos relatam episódios de DTM. A psicologia tem um papel cada vez mais influente para gestão do stress e ansiedade

O diagnostico é fundamental no caso da dor orofacial, uma vez que esta região é complexa e apresenta uma grande diversidade de tecidos e estruturas ( olhos, nariz, dentes, língua, seios, ouvidos, ATMs e paralelamente é fulcral saber a a origem da  dor. Ou seja, o  diagnostico sobre a origem da dor é a condição que determina a eficácia da intervenção e o encaminhamento para as respetivas áreas.  A Intervenção terá que ser feita por uma equipa multidisciplinar (médico dentista, o fisioterapeuta, o psicólogo, o cirurgião maxilo-facial, o reumatologista, o otorrinolaringologista, terapeuta da fala, o neurologista..).  

A fisioterapia recorre a técnicas combinadas de terapia manual com exercícios terapêuticos, bem como  à gestão, à educação e ao aconselhamento para a condição clínica. Tendo como principais objetivos o alivio da dor, o  relaxamento muscular dos músculos afetados e correção do movimento da boca.

A terapia cognitivo-comportamental e educação são cada vez mais essenciais como estratégias de controlo dos fatores de risco.

O sono influencia a dor, sabe-se que a privação de sono pode desencadear alterações de humor e iniciar queixas de dor. A privação de sono poderá ser um dos fatores que estimula a alteração da atividade das estruturas cerebrais responsáveis ao processamento e/ou modulação da dor. A alteração da qualidade de sono pode produzir dor orofacial.

A relação entre a qualidade de sono e dor crónica está bem fundamentada e é bidirecional com a população que experiencia dor persistente a reportar diminuição da qualidade e quantidade de sono.
O sono é uma necessidade biológica sendo que dormir 7 a 9 horas por noite é o recomendado para os adultos para a manutenção da sua saúde e bem-estar.
Alterações no sono estão associadas a diminuição da saúde física e psicológica e – em adição – alterações na cognição, memória, atenção e vigília.
Por outro lado, uma boa qualidade de sono aparenta ser preditiva de diminuição da intensidade de dor e melhor gestão da mesma.
A ansiedade e outras condições mentais podem contribuir, uma vez que os estudos comprovam aumento crónico da atividade do eixo hipotálamo hipófise com aumento significativo dos níveis de cortisol. Isto demonstra que está sob efeito de stress crónico. A autopercepção individual dos factores que contribuem para o stress é fundamental, sendo eles próprios agentes de mudança essenciais para o sucesso de qualquer plano terapêutico.

Estudos referem que elevados níveis de ansiedade e de stress, bem como, os fatores psicológicos têm efeito na DTM. Os níveis elevados de ansiedade e stress também têm demonstrado influenciar a capacidade de adaptativa do individuo e do sistema mastigatório, formando assim importantes mecanismos predisponentes e perpetuantes. Níveis elevados de stress emocional vivenciados pelo utente aumentam o tónus muscular da cabeça e do pescoço, como também os níveis de atividade muscular parafuncional, como o bruxismo.

Pacientes com DTM crónica  parecem ter características psicossociais e comportamentais semelhantes aos pacientes com dor lombar e cefaleias.

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Fisioterapia na Disfunção Temporomandibular e Dor Craniofacial

A articulação temporomandibular é uma das articulações mais complexas do nosso corpo unindo a mandíbula ao crânio e permite falar, mastigar, deglutir e realizar movimentos mímicos.

A articulação temporomandibular abre e fecha-se todos os dias numa média de 1500 a 2500 vezes, sendo expectável que qualquer alteração possa ter consequências negativas. A causa deste tipo de transtornos da ATM pode estar na musculatura periarticular ou na própria articulação. Factores como um traumatismo cervical, problema dentário, postura de anteriorização da cabeça, deficit proprioceptivo ou alterações morfo-estruturais podem determinar uma assimetria na oclusão ou disfunção de movimento.  

Os sinais e sintomas mais comuns são:

– Dor orofacial – é o sintoma mais comum, podendo surgir uni ou bilateralmente na região da articulação temporo-mandibular e/ou nos músculos da mastigação, bem como, na região craniana;

– Ruídos articulares – Poderão surgir sobre a forma de estalidos ou crepitações;

– Movimento mandibular assimétrico – se a mobilidade de um dos côndilos estiver limitada, o outro sofrerá uma alteração biomecânica compensatória, resultando numa hipermobilidade contra lateral;

– Desvios laterais mandibulares na abertura da boca – causas de disfunção muscular ou morfo-estrurais;

– Limitação da abertura da boca;

– Cefaleias;

– Vertigens e Zumbidos – podem estar associadas a disfunção do osso temporal, lesão da artéria vertebral por múltiplas lesões cervicais, hipertensão arterial intracraniana, a lesão da carótida por lesão do osso temporal ou esfenóide, entre outros;

– Cervicalgia – alterações dos alinhamentos cervical e mandibular.

Tratamento

O tratamento da ATM muitas vezes é multidisciplinar, sendo normalmente efectuado por profissionais de diversas áreas de odontologia e também, quando necessário, com o auxílio de profissionais de outras áreas da saúde (como o Fisioterapeuta especialista), devido a infinidade de factores causais.

A combinação de terapia manual, exercícios activos, reeducação postural e técnicas de relaxamento muscular, pode ser efectiva, a curto prazo, na diminuição da dor e limitação funcional e na normalização do movimento de abertura da boca. O quadrante superior, isto é, o sistema estomatognático, a cervical e o ombro, devem ser avaliados em utentes com sintomas mais complexos ou persistentes a nível da região cervical e da cabeça.

Há que assinalar que muitos pacientes passam por uma série de médicos e especialistas (incluindo Psicólogos e Psiquiatras) até chegar á conclusão que as suas queixas têm origem no complexo da ATM. Consultar um Médico especialista Maxilo-facial, Médico Dentista ou Fisioterapeuta especialista em ATM pode ser determinante para um correcto diagnóstico.